POR CRISTINA VIEGAS - LAGOS, PORTUGAL



Hoje acordei embrenhada em sentimentos que me corroem a alma. Como se estivesse em cima de uma corda. Num equilíbrio que me deixa sem forças e que me angustia. O meu coração bate descompassado, num sufoco que só ele sente e Deus conhece. Como é possível amar e ao mesmo tempo não te querer por perto?! Como é possível desejar-te e da mesma forma não consentir que toques no meu corpo?!

Tornaste o belo que havia entre nós, em dor. Em mágoa. Em desilusão.
As tuas mentiras, os teus dramas, as tuas atitudes, afastaram-me de ti. Dentro do meu peito encontro duas vozes: a razão e a ilusão. As duas discutem. As duas formam ecos de amor e desamor que acabam se entrelaçando na dor das mentiras.
Amo-te, sim. Mas este amor está obscurecido pelas tuas palavras e promessas que não foram cumpridas, e acabaram se desvanecendo no tempo. Palavras e promessas ditadas nas noites em que adormecemos agarrados como uma peça só. Palavras que prometiam alcançar sonhos. Palavras que sonhavam com um futuro.
O certo é que a cada dia, a realidade mostrava que nada era mais que um vazio. E embalado nessa realidade fria, vieram as tuas mentiras. As tuas falsas verdades. O teu fingido querer…
Mal tu sabias, que essas pequenas falhas iam tornar-se precipícios entre nós. Nem sequer imaginavas, que cada meia-verdade que vomitavas, era como uma faca afiada que esventrava a confiança que eu batalhava para preservar. Mas mesmo assim, o amor teimava em ficar apesar da dor.
Contudo, o tempo avança e como é óbvio, amar na beira de um precipício é meio caminho para uma queda fatal.
E as conversas que antes transbordavam gargalhadas, sorrisos e planos, viraram ecos desfeitos por palavras sem valor. Deixaram de encher as medidas. Deixaram de alegrar. Deixaram de fazer sentido.
O amor, descobri, pode ser tão angustiante e sofrido como belo. Em cada deceção, fecha-se mais um pouco, protege-se, mas mesmo assim, ainda habita cá dentro uma chama que resiste a todos estes furacões e agarra-se à esperança e ao desafio de um dia encontrar um amor inteiro. Daqueles que apesar das individualidades e características únicas que cada um de nós tem, vem embrulhado em atos de coragem, de bem querer, de verdade e de entrega total.
Cristina Viegas
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