Quando saí desta casa, a gritar a plenos pulmões e a chorar
Arrastada para um carro que me levou para um colégio interno
Nunca te perdoei que tivesses optado pela solução mais fácil para ti
E todas as cartas que me enviaste, ao longo dos anos, foram para o lixo, sem serem abertas
Mas, desta vez, tive um pressentimento que me levou a hesitar durante dias
E, acabei por abri-la e decorei as suas palavras:
" Filha,
Quando esta carta chegar a ti é sinal que já cá não estarei. Não sei se a chegarás a ler, mas eu precisava de a escrever.
Nunca tive sorte com os homens ou talvez tenha sido eu que nunca os soube escolher. Fui uma mulher de muitas paixões, mas acho que nunca soube amar.
Depois do teu pai, colecionei experiências e todas elas foram fracassos.
E, acabei os meus dias sozinha. Mulheres como eu estão destinadas à solidão.
Quero que saibas que quando soube que estava grávida de ti, cheguei a acreditar que seria uma boa mãe. Mas, a verdade é que nunca tive paciência para as noites mal dormidas, para os choros, para as birras e quando o teu pai saiu de casa tudo piorou e eu tinha de acabar com este tormento.
Não espero que me perdoes, porque o meu egoísmo não tem perdão, mas quero que saibas que sempre pedi a Deus que fosses diferente de mim e que soubesses abraçar o amor.
Espero que esta minha prece se tenha realizado.
Um último beijo, daquela que nunca soube ser mãe."
Esta carta veio mudar a minha vida
Nesta mala, apenas coloquei as boas lembranças, porque também as tinha
A esperança
O perdão
E, sobretudo, a reconciliação com o passado
E, voltei a esta casa, determinada a escrever um novo capítulo da minha história...