SAUDOSISMO PATENSE
A HISTÓRIA DO CINEMA EM PATOS DE MINAS
O Jornal "O Trabalho" de 16 e 23 de junho de 1907, faz a cobertura das primeiras sessões de cinema em Patos. Os empresários, José Rodrigues Zica e José Pecci, na 5 feira, 13 de junho de 1907, "com regular concurrência, apesar do intenso frio", deram a primeira sessão. Entre outros filmes, sabemos que projetaram "Banho de Mar", "Dança de um Esqueleto "Cavalaria no Mar", "Gata Gulosa", "Chegada de um Trem em Lisboa "Manobras da Cavalaria Riograndense". "Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, e cenas da guerra russo-japonesa. As projeções repetiram-se, com geral agrado tendo contudo causado estranheza à plateia. O proceder de alguns moços que, com seus gritos, perturbavam os espectadores, a ponto de merecerem por parte do proprietário ligeira admoestação. Certo é que a novidade que era o invento dos irmãos Lumiére, bem depressa ganhou o Brasil, trazida pelos operadores ambulantes. Em 1910, temos noticias de projeções cinematográficas em Patos, feitas per Domingos Gomes. Mas, o primeiro prédio próprio para cinema foi construido por Arthur Thomaz de Magalhães, que inaugurou o Cinema Magalhães a 10 de maio de 1913 Dispunha de 105 assentos avulsos, além dos destinados a assinantes Se programa de 3 de maio de 1914 anuncia os filmes "Sob o Jugo". "A Divida do Imperador “. O capitão Juca Santana passa a fazer concorrência ao Cine Magalhães a partir de 1920, quando inaugura o Cine-Theatro Glória, localizado na rua General Osório: três portas de entradas, saida lateral, cabine de madeira, cadeiras com assentos de palhinha, dobráveis e bancos nas gerais Tinha um pequeno palco que possibilitava aos amadores locais e companhias em trânsito a apresentação de "shows ou peças teatrais. Outro cinema, de pouca duração, o "Patense", foi instalado pelo professor Oscar Rodarte, ainda em 1920, em frente ao atual Colégio Antônio Maciel. O sistema sonoro começou quase simultaneamente, no Glória e no Magalhães , em 1933. Sobre a "novidade", temos um caso curioso, que começa em 1930 quando o coronel Arthur Magalhães resolve dar uma pintura no cinema. Terminada a calação, oleadas as portas, taboletas nas ruas anunciando a emocionante película, o coronel chama o operador João de Barros e indaga: "O Jonas, ta em casa? Jonas, um dos filhos de João de Barros. Recebe a confirmação "Então vá chama-lo, com escada, tinta e pincéis.” Chega o Jonas e já encontra à sua espera o coronel, que val logo deter e pinceis minando: "Alí, bem por baixo da placa "Cinema Magalhães escreva "Cinema Calado.”
-Mas, coronel, pra que? Todo mundo sabe que o cinema é mudo
- Estou pagando Faça o que eu mando
Inauguração do cinema falado em 1933, no Magalhães. Testada a aparelhagem sonora, tudo pronto, o coronel manda atrás do Jonas. Escada, pinceis e tintas. Preço acertado, 200 réis cada letra.
-Onde é o letreiro, coronel?
-Que letreiro o que! Trepa na escada, raspa o "C" do calado e põe “F” no lugar, prá ficar "Falado"
Em 1934. Já desanimado pelo cansaço e pela idade, o coronel Arthur arrenda o cinema ao padeiro Tito Silva. Foi uma fase de grandes filmes na tela do Magalhães. Tito Silva topava o desafio do público e contratava os filmes de maior agrado:
Tom Mix, Buck Jones, Ken Maynard, Hoot Gibson, Bob Steele, Os Perigos de Paulina, e King Kong, que viria a ser um dos clássicos do cinema. Vencido o contrato de arrendamento, fecharam-se as portas do Cine Magalhães.
Enquanto isto o capitão Juca Santana mantinha o Cine-Teatro Glória, que entre um ou outro filme ainda apresentava, no palco, Augusto Anibal ou Marília Pozzoli. O Glória acabou sendo arrendado à Empresa de Cinemas em Circuito, dirigida pelo Dr Joaquim Silva Castro. Com sede em Formiga, a E.C.C. empresava cinemas também em Patrocínio e Itapecerica. O dinâmico empresário manda trocar a aparelhagem em Pathé Frères, antiga, por outra moderna, marca "Centauro". E lança uma programação de alta categoria, mostrando, entre outros filmes, "Romeu e Julieta" "A Dama das Camélias". "Maria Antonieta', e para os amantes do filme seriado - *Novo Robinson Crusoé", com Mála, "Deusa de Joba", entre outros.
O garimpo tornando milionário o sr. Bermudes de Castro, possibilitou a Patos ter um dos mais modernos cinemas de Minas, perfeitamente comparável aos da Capital. o Cine Tupan dotado do poltronas modernas, amplo balcão, aparelhagem "Zeiss-Ikon. A Inauguração, em 1940, apresentou a estrela máxima da época, Deana Durbin, em "Louca por Música".
Com a inauguração do Tupan, sobrovém o fracasso do Glória. O vai-e-vem, nome patureba do "footing", que se fazia na Rua General Osório, da esquina da Recreativa à esquina da Escola Normal, passou a ser feito da esquina da Recreativa ao Cine Tupan. O empresário Silva Castro acredita ainda no Glória. Manda fazer um declive, conserta as cadeiras e melhora um pouco a programação. Debalde. O povo já se afeiçoara ao Cine Tupan.
Silva Castro propõe, então, o arrendamento do Tupan em 1941, o que é aceito. Marcando dai o fechamento do Cine Gloria. O Tupan fez sua última projeção em 1961
Em 1948, no mesmo local do extinto Cine Magalhães, foi construído outro cinema. O Olinta de propriedade do sr Amadeu Maciel, funcionando por poucos anos. Posteriormente, seu salão e instalações foram utilizados, como estúdio da Rádio Clube de Patos. Em 1972, volta outra vez a funcionar como Cine Olinta, arrendado ao sr. Mário Garcia Roza. Junho de 1960 marca a inauguração do Cine Garza, moderna casa com 1 200 assentos, construída por Mário Garcia Roza Melhoramentos S/A. Outro cinema é inaugurado em Patos de Minas, em 1961 o Riviera - com 1.500 poltronas, construído por Pessoa & Castro
Mário Garcia Roza, radicado em Belo Horizonte, funda alí a Cineminas S/A. Propondo, em 1968, o arrendamento do Cine Riviera. A proposta não foi aceita, mas uma sociedade fol concretizada com o sr Wirmondes de Castro, sob a denominação de Cinepatos Ltda, para a exploração comercial dos cines Garza e Riviera. Um ano depois Mário Garcia adquire o Riviera e em 1973 deixa o comércio cinematográfico passando suas casas Olinta, Riviera e Garza ao Sr Marcelino Ferreira, empresário de cinemas em Sabará, Nova Lima, Santa Luzia, Itaúna, Divinópolis e Oliveira.
Finalmente, não poderíamos deixar sem citação, um dos mais assíduos espectadores de cinema do Brasil, “ Milton Corrêa da Costa” - o qual, com pouco mais de uma dezena de falhas, assistiu todos os filmes exibidos em Patos de Minas nos últimos quarenta anos, sendo grande torcedor pelos mocinhos e "virando bicho" quando algum engraçadinho, a determinada altura da projeção, grita: "O Milton tá torcendo para o bandido!
Outro, o coronel Arthur Magalhães, nos seus últimos anos de vida não perdia sessão do Tupan. Saindo de uma delas, nos dias decisivos da 2 guerra mundial, onze e meia, da noite, de chuvinha fria e cidade deserta, foi abordado por seu sobrinho. Dr Antônio Ferreira Maciel, que acabava de ouvir no seu telefunken a notícia da morte de Adolf Hitler.
-Tio Arthur, tio Arthur.
- O que é que é menino? ... Isso é hora de tá na rua, ainda mais com essa friagem? Val já prá dentro e toca os pés nas bacia dágua quente.
-Mas, ti'Arthur, acabam de matar o Hitler. Mataram o Hitler!!!
O coronel endireitou o capote preto Silenciou alguns segundos, e indagou
-Foi aqui ou foi no garimpo?