“O Homem do Lápis”. E sob os olhares atentos dos alunos, o Professor começou a contar a história tão esperada:
*Numa certa cidadezinha, vivia um indivíduo cujo apelido era “O Homem do Lápis”. Apelido este que se dava pelo tal estar sempre com um lápis na mão. Claro, levava também alguns cadernos, nos quais vivia anotando tudo o que via e ouvia. Conversava tão pouco, que muitos até chegavam a pensar que era mudo. Se tinha uma festa, lá estava ele “de mutuca”, não perdia "um lance".
Tempo de eleições, aí mesmo é que se fazia presente, e “mandava o lápis”... Nem na Igreja, dava trégua, “lascava o lápis”. Lia jornal e tudo o mais que aparecia, era visto em todas as praças e bairros. Espiava de cima de telhados, das árvores, nas frestas de portas, janelas... Constantemente de lápis e caderno a tiracolo. Certa vez o denunciaram, dizendo que estava andando “armado”. A “arma” a que se referiram seus acusadores era o canivete que o “enxerido” usava para apontar o lápis. Mas, debalde tal explicação; "Lá foi o coitado para o xadrez", onde para variar, “mandava ver + e + escrita”.
“Uma boa porção dos habitantes locais”, com a consciência pesada, vivia apreensiva e matutava: “O que será que ele tem escrito? O que esse cara sabe da gente”? Chegaram ao extremo de arrombar sua casa várias vezes, na tentativa de "sequestrar" os temidos cadernos, mas nada encontraram de novidade. Depois de muita “investigação”, descobriram que ele os escondia em determinados esconderijos, dos quais havia um mapa que o tal “escrevedor” carregava cuidadosamente consigo...
Mas, como todos morrem um dia, não foi diferente com o tal “homem do lápis”, que depois de uma “boa coleção de primaveras vividas, passou dessa para melhor”. O defunto ainda estava fresco e já haviam “revirado seus bolsos”. Tão logo deram com o tal mapa, os mais poderosos colocaram seus “capachos”, digo, subordinados, à caça dos caderninhos... Assim que os encontraram, (centenas de cadernos) foram para um local seguro, empilharam todos e já se preparavam para “atear fogo”, quando alguém questionou: “Ué, mas se a gente não lê, nóis vai esperneá e pinicá de curiosidade”!
Confabularam e enfim chegaram a um acordo: Todos ali presentes poderiam ler o que estava escrito, mas não revelariam a ninguém o que quer que fosse que incriminasse os mesmos. E assim, começaram a “leitura”. Suspense...
Leitura? Surpresa! Todos exclamaram numa só voz: “Só isso???!!! Que imbecil”... Em todas as linhas dos cadernos, estavam registradas somente horas e datas. Nenhum nome, nenhuma “informação comprometedora”. A não ser que: respectivamente os “curiosos” foram percebendo que as datas e horas coincidiam exatamente com os momentos exatos em que haviam praticado algum "delito"! No mais profundo silêncio e no maior “sigilo”, trataram de queimar logo aquela coisa.
“Aliviados”: Depois de ver toda aquela “suposta ameaça” em cinzas, desabafaram em coro: “Não é que o paspalhão esqueceu dos nomes”?! E caíram em espalhafatosa gargalhada. *Fim da “história”.
O Professor foi fechando o livro e já se preparava para sair, quando veio o protesto dos seus pupilos: “Mas o que é isso, Professor? Que história mais sem graça, sem pé e sem cabeça! Que perda de tempo”.
Puxa! Murmurou o Professor “contador de histórias”; E concluiu: “Ora, deixei para vocês a oportunidade de refletirem, mas já que insistem”... Voltou a se sentar e foi dizendo paulatinamente: Tivemos em primeiro lugar, a lição mágica de um Cidadão, que munido da razão, foi um Fiscal Implacável de um todo - poderoso e horroroso "SISTEMA"!!! A história não generalizou, deixando evidente, que “boa parte dos habitantes” daquela cidadezinha estava apreensiva com o que estaria escrito nos tais cadernos... Prova que nem todos carregavam algum tipo de culpa, portanto muitos não tinham motivos para se preocupar.
E prosseguiu: O que no início não passava de simples dados relativos a datas, horas e minutos, com o tempo foi se revelando motivos de sobra à gerar ódio e desconfiança entre os que leram e depois “exterminaram com a cadernada toda”. Acabava que todos ali, que cometeram atos maléficos, de forma direta ou indireta também foram vítimas de alguma tramoia maquiavélica; Só não sabiam da parte de quem.
Finalmente, diz a “lenda”: A referida “corja” caiu no maior atrito, se destruindo mutuamente, sem piedade! E que por aquelas bandas, onde tempos depois fluiu um grande progresso, "ergueram pois", um enorme “monumento” em forma de LÁPIS...
*Célio Gomes.
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